domingo, 3 de março de 2013

Paixão oceânica

O sal e água de nossos encontros
evaporam-se quando te deixo.
mas quando esses salsos mares 
enchem teus olhos castanhos,
percorrendo as dores de meu desejo,
naufraga o navio perdido
no gelo de meu inconsciente tirano,
psíquico cigano alheio.

Navio esse que se chama amor
comboio de todos sentimentos
tão fortes são movidos a vapor
fervido nas areias de teu alento.

Outono

Meu coração é breve
como as árvores
folheadas de sangue.
Meu corpo é gelado
como o orvalho
niquelado de lágrimas.
Meus olhos são verdes
porque foram regados
com teu pranto.
E se você é a natureza
que controla meus passos
quero ser presa de tua teia
a formiga, o inseto
teu eterno fardo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Caminho ao museu do índio


Se vejo, choro.
Se ouço, ensurdeço.
Se cheiro, apodreço.
Se sinto, me despedaço.
Se falo, logo me calo.

As crianças correndo
competindo com o vento
passam pela construção gris,
passam por corações vis.
Invadem-me os olhos
as águas cinzas do maracanã
Rompem-me os sonhos
os caminhos de toda manhã.

Uma maritaca e uma cigarra
anunciam o amanhecer
Uma furadeira e um guindaste
anunciam que é hora de viver.
Em meio a alta perfuratriz
resta-me a memória melódica
daquele rouxinol que um dia foi feliz.

Na aurora ainda descansa o doce odor
que exalou o peculiar jasmim da noite.
na cama os sonhos, na calçada só a dor
de caminhar rumo ao diário açoite.
O  aroma floral perde espaço,
tortura o corpo tal ar putrefato
das margens  que invadiram os olhos
das furadeiras que percorreram os ossos.

Os baques da construção
são os baques que pouco a pouco
colam pregos em meu coração.
A cada pedra monumental que se perde
é uma asa falha  tentando bater
em meio a correnteza inerte.

Se me encontro lá, sinto tudo
de todas as maneiras.
Tamanho golpe faz ser mudo
meu corpo, e as passagens corriqueiras.
Não porque não quero a todos falar
mas porque me faltam forças para gritar.

Ninguém ouve
Ninguém sente.
No final ninguém soube
das maldades que sorrateiramente
passaram pela gente.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Engrenagem sentimental

O amor é o éter do espaço!
apaga a luz, acende o acaso.
É desconstruído passo a passo
pra compor a sinfonia relativa
que destrói o antigo compasso
da mecânica perspectiva.

É verdade, amigo, emoções são mecanicistas
seguem a mesma maneira todos os dias
obedecendo em todos os lugares as mesmas leis.
A razão é o grande indeciso artista
muda de posição que nem malabarista
atrás de novas provas, de novas pistas.
Sei que o amor existe e ele é eterno rei.
Atrás de Newton eu irei....

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Arodasi

Inexplicável primeira aurora
Soeu uma doce brisa,
Aconchegou as eternas horas
Daquela matemática tão precisa.
Ontem foste pra sempre embora
Restando-me a alma poetisa
Anjo, flores, dissonante ‘Dora’.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Minha homenagem a uma flor que jaz no campo

A alguns dias atrás estava lendo o jornal, determinada a extrair o máximo de conteúdo possível, li cada partezinha inclusive o obituário. Deparei-me com uma manchete que simplesmente congelou meu corpo: "Vanete Almeida, aos 69.Uma líder feminista no campo". Ora bolas, eu como grande simpatizante e adepta do movimento feminista me senti um pouco mal por não conhecê-la, uma mulher de história tão grande, percorreu diversos lugares, sem dinheiro, pedindo carona na estrada, com um único objetivo, conscientizar as mulheres de seus direitos, em um lugar do Brasil tão precário em questões de informação, educação e dignidade humana. Sua determinação me comoveu de uma forma indescritível.

Participando de diversas comunidades e grupos de discussão de gênero fiquei indignada por saber que uma guerreira brasileira não era mencionada. Me dói  um pouco o coração ver que a vida pessoal do Ralph Fiennes merece mais espaço do que essa grande mulher, Vanete Almeida.

E finalmente presto através de alguns versinhos minha homenagem a essa líder feminista cuja luta apertou meu coração de todas as maneiras.


Mulher de força e raça
pobre vítima do corpo
esse que é arma de luta
e na essência apenas comboio.

Guerreira cor de rosa
jaz no campo verde
transformando-se de guerreira
em botão de rosa.
Flor de um mundo cinza
pinta com sua história
esses corações aleatórios

Fardada de pétalas e saia
transforma com tuas armas
essas pobres desconhecidas almas.
Tua imagem me instiga a escrever
e de alguma maneira
fazer tua imagem guerreira
no coração do mundo permanecer!

Um girassol ilumina tua lápide
reluz verde e amarelo
em teus caminhos além de Brasil
Líder do mundo, de Pernambuco
da América feminista!

Esqueçam Simone e Frida
hoje respiremos o perfume
de Vanete de Almeida.

Outro de amor

Em uma corrida de ônibus
adormecida em teus braços
percorrendo diversos pontos
Dei-me por ti em tudo que faço

Chega a noite, choramos seco

selamos o fim de um dia com beijos.
O brilho da Lua escorre negro
sem te ter pela minha pele nua

Cansada, sozinha eu me deito

relendo palavras suas
guardando as eternas juras
de um amor eterno,
de um amor etéreo.

Pego seu chapéu de palha
para colher nossos girassóis
visto sua calça preta de malha
e me adentro contigo nos lençóis,
sussurro ‘Bom dia Chico’
e você diz ‘ passe a eternidade comigo’

Como é triste a realidade

prefiro viver em nossos sonhos
até que de tanto sonhar
eles tornem-se verdade.

Temos um encontro marcado
ando pela cidade até o Grajaú
sentamos no banquinho verde
me dizes que está apaixonado
sorrio, guardo em um baú
os segundos todos ao teu lado.

Vou para casa um pouco atrasada
relembrando cada instante
rio sozinha de também apaixonada
e me ponho a escrever
todos esses versos incessantes
feitos só pra você.

Tomamos um cafezinho a tarde
um sem açúcar outro com adoçante
afinal já somos de meia idade
e escolheste tu uma esposa implicante.
Abro um baú meio empoeirado
rimos um do outro abraçados.
Meu amor, como é lindo
esse futuro passado